domingo, 11 de dezembro de 2011

OS FILMES DA DISNEY, NO TRAÇO DOS BRASILEIROS


Página de abertura das hqs de "O Corcunda de Notre Dame" publicadas em 1997. Editora Abril Jovem

Muito se falou sobre o Estúdio Disney que a Editora Abril Jovem mantinha em sua sede em São Paulo e que começou a se moldar ainda na década de 1960, sob a batuta de Waldir Igayara de Souza, Jorge Kato e Claudio de Souza, e que encerrou suas atividades no início da década de 2000. Foram milhares de páginas de quadrinhos, criadas e produzidas no Brasil e exportadas para o mundo todo, tornando-a na década de 1990, a segunda maior produtora de material Disney do mundo.
Porém em 1997, a Abril Jovem conseguiu um fato inédito: obteve autorização para produzir as hqs especiais do novo desenho animado da Disney O Corcunda de Notre Dame, inspirado na obra de Victor Hugo. O convite foi feito a Primaggio Mantovi e Euclides Miyaura, respectivamente diretor e chefe de arte, durante a pré-estreia do filme em Los Angeles, onde foram como representantes da Abril Jovem. A responsabilidade era bem maior. Os trinta e tantos anos de criação de hqs com Donald, Mickey e companhia, deram aos artistas da Abril, prática e liberdade de criação, inclusive com a autorização para criar personagens secundários. Agora, porém a história era outra. Os clássicos que vinham sendo adaptados para o cinema desde "A Pequena Sereia" de 1991, (vieram depois, "A Bela e a Fera", "Aladim", "O Rei Leão", e "Pocahontas") traziam sempre uma nova galeria de personagens que precisavam ser adaptados para os quadrinhos, porém, não havia referências. Apenas o filme em questão. Tinha que partir do zero e se basear apenas no Style Guide e no filme. Mas a equipe da Disney fez bonito. Com uma equipe formada por Gerson Teixeira (hoje nos Estúdios MSP) nos roteiros, e Gustavo Machado, Paulo Borges e José Wilson Magalhães na arte, foram produzidas dez hqs, publicadas nas revistas Disney dos meses de maio e junho de 1997, e depois exportadas para países como Itália, Holanda e Espanha.


Hércules. produção brasileira de 1997. Abril Jovem

No ano seguinte, a Disney lança Hércules, baseado na mitologia grega, e novamente o Brasil é autorizado a criar e produzir as hqs originais. Os roteiros agora são do americano Bob Foster, com a inclusão do desenhista Aluir Amâncio na equipe. Foram 6 hqs publicadas no Almanaque Disney do número 321 a325, entre os anos de 1997 e 1998.


Capa da edição especial MULAN NOVAS AVENTURAS. Abril Jovem

A próxima produção da Disney foi Mulan, lançada em junho de 1998. Mulan mostrava uma corajosa jovem chinesa que se passava por um guerreiro no lugar de seu pai debilitado e ajudava o exército imperial chinês a expulsar os invasores hunos. A Abril novamente trabalha com os roteiros de Bob Foster, com os mesmos desenhistas e agora com a arte final de João Anselmo, e produz um total de 8 hqs, que foram publicadas de várias maneiras. Uma delas, foi através de um acordo com a rede McDonald´s, em que a Abril produziu uma série de quatro mini-revistinhas com 82 páginas. Lançadas em julho de 1998, as revistas traziam a história do filme, atividades e passatempos e uma hq da personagem, e eram distribuídas como brinde a quem comprava o McLanche Feliz. Viraram febre entre a garotada, ganharam comercial de tv e hoje são objeto de colecionador, já que é difícil encontrá-las por aí, nos sebos. Em outubro do mesmo ano, a Abril decide fazer uma edição especial com a personagem e lança nas bancas, Mulan Novas aventuras, republicando as mesmas hqs da promoção do McDonald´s. Apesar de ainda terem mais 4 histórias inéditas, que dariam mais uma edição, a editora resolve publicá-las no Almanaque Disney a partir do número 325. Eu, que havia pleiteado uma vaga de colorista em 1996, nas hqs do Corcunda, só consegui uma oportunidade aqui, em 1998. Colori 2 hqs da Mulan, A dança do cavalo e Boa ideia, que tanto foram publicadas na série do McDonald´s, quanto na revista especial de banca. As histórias também foram publicadas na extinta Disney Adventures, publicação americana, com sede em Nova York, que nas suas 104 páginas trazia matérias sobre os lançamentos da Disney no cinema e na tv, além de hqs desses personagens.


HQ publicada em MULAN NOVAS AVENTURAS. Desenhos de Gustavo Machado, arte final de Antonio Lima, cores minhas no Photoshop. Abril Jovem


Antes dos brasileiros, os americanos já permitiam dar crédito aos artistas Disney.
Página de DISNEY ADVENTURES, novembro de 1998. 


Primeira página do gibizinho MULAN, distribuído no McDonald´s, com a adaptação da mesma história acima.

Série de mini-revistas Disney, distribuídas no McDonalds, junto ao McLanche Feliz.

Em 1999, chega a vez de Tarzan, adaptação do clássico de Edgar Rice Burroughs, transformando-se em uma das melhores animações da Disney. A produção brasileira mais uma vez se faz presente, em Superalmanaque Disney, uma publicação especial no formato Veja, que a cada edição apresentava hqs e passatempos de determinada família de personagens. A edição de número 20, trazia Mistério na Selva, (hq de 20 páginas divididas em 5 partes), Saindo de casa, Que vença o melhor e A rainha da selva, essas com 8 páginas cada. Uma curiosidade: A rainha da selva, foi colorizada duas vezes. A primeira, por mim, cujo trabalho foi realizado nos computadores da Abril, já na sede da Marginal Pinheiros. Como de praxe, as hqs finalizadas eram todas enviadas aos estúdios Disney em Burbank, na Califórnia, para aprovação. As cores de A rainha da selva foram reprovadas. Fiquei extremamente desapontado, pois havia participado de Mistério na selva, junto com outros artistas e já havia colorizado Mulan. Porém, sabia do nível de exigência da Disney. Um segundo colorista foi designado para refazer o trabalho, que finalmente foi aprovado. O McDonald´s saiu novamente com uma série de 3 revistinhas contendo hqs produzidas no Brasil. Essa produção ainda não foi catalogada no INDUCKS, a base de dados mundial Disney, por isso se desconhece o nome de todos artistas envolvidos. Sabe-se porém que Marcelo Campos, um dos fundadores da Fábrica de Quadrinhos e diretor da Quanta Estúdio, fizera algumas histórias.
A partir do ano seguinte, com a redução drástica da produção brasileira de hqs, encerra-se também esse grande trabalho de adaptação dos filmes da Disney. Quem sabe agora, com os rumores de que a Abril pretende retomar a produção nacional de hqs do Zé Carioca, voltemos a ver nossos artistas produzindo Disney por aqui e exportando para o mundo todo, e não o contrário, como vemos agora. Artistas como Euclides Miyaura, que lá em 1996, começou tudo isso, hoje desenha para a Dinamarca e a Abril compra suas histórias para depois publicá-las aqui. Coisas de Brasil.

Página colorizada por mim para a hq MISTÉRIO NA SELVA, baseada no filme TARZAN. Abril Jovem.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

...E NÓS CHEGAMOS LÁ!!!

Acabo de voltar dos Estados Unidos, onde além de descansar, fui conhecer o NEW YORK COMIC CON, um dos maiores eventos de cultura pop do mundo! E fiquei muito feliz com a presença de vários desenhistas brasileiros na chamada "Artist Alley", ou beco dos artistas, local onde os fãs podem conhecer de perto os artistas de seus gibis preferidos. Essa história de brasileiros desenhando hqs de super-heróis para o exterior é antiga, e começou lá no fim dos anos 1980.

O COMEÇO
Voltando bastante no tempo, é bom ressaltar que o reconhecimento do talento de nossos quadrinhistas no exterior é antigo. Entre as décadas de 1980 e 1990, a Editora Abril representada por Waldir Ygaiara, Primaggio Mantovi, Julio de Andrade e Euclides Miyaura exportavam hqs Disney produzidas aqui no Brasil, para vários países, como Itália, Portugal, Espanha, Estados Unidos, entre outros. O Estúdio Disney brasileiro que funcionava dentro da Editora, foi considerado por muito tempo o segundo maior criador de material Disney do mundo. Além, claro, do nosso grande Maurício de Sousa, também reconhecido internacionalmente e exportando suas revistas para muitos países. No fim dos anos 1980, a Agência Commu, da Bélgica, já exportava o trabalho de brasileiros para a Europa, através da publicação de trabalhos autorais de Mozart Couto, Rodval Matias, Cézar Lobo, Júlio Emílio Braz e Arthur Garcia. Foi nessa época que Helcio de Carvalho e JP Martins, fundadores do Estúdio Art & Comics, foram para os EUA com um portfólio embaixo do braço, mostrar seus trabalhos de tradução e adaptação em mais de uma centena de títulos publicadas pela Abril Jovem. Levaram também portfólios de desenhistas brasileiros e após dois anos de tentativas conseguiram o que parecia impossível. Começaram vertendo para o inglês a série "Inferno", novo nome dado a "Paralelas" e Vôo Livre", trabalhos de Watson Portela publicados pela Press Editorial na década de 80. Mas foi o desenhista Marcelo Campos quem realmente abriu caminho, fazendo as 56 páginas mensais da série "DeathWorld" da Adventure Comics.


Reprodução de uma matéria de Franco de Rosa, sobre o início dos trabalhos para os EUA.
Folha da Tarde, 31/01/1991

Campos desenhava de madrugada e ainda trabalhava de dia na Abril Jovem. Além disso ainda assumiu a produção de outra série "Retief and ther War Lord", que deveria ser desenhada por Watson Portela e ele assumiu para não furar os prazos. Chegou a parar no hospital devido ao stress. E ainda era chamado de "vendido" pela turma daqui. Diziam que ele havia traído o mercado brasileiro. Sim, rolou um preconceito. Mas abriu caminho para toda uma geração.

Capa do n. 1 de DEATHWORLD, primeiro trabalho de Marcelo Campos para os EUA.

Página de Marcelo Campos em DEATHWORLD

Anúncio da minissérie PARANOIA, desenhada e pintada por Kipper, uma das primeiras
produções do Art & Comics para a Editora Eternity


Na sequência vieram " Paranóia" com desenhos pintados á mão por Henrique Kipper, "Force One" de Otávio Cariello, "Jungle Love" de Rene Michelleti e "Daddy Does Dallas" de Valdir Fernandes. Todas com capas de Hector Gomez Alísio. De 1990 até 1993, vários artistas da primeira geração de desenhistas agenciados, como Mike Deodato, Luke Ross, Roger Cruz, Klebs Junior, Manny Clark, Ed Benes, Fabio Laguna, e Joe Bennet fizeram trabalhos para editoras como Caos, Eclipse, Inovation, Continuity Comics, e alguns chegaram a levar calotes, coisa que artista brasileiro já estava acostumado.
Estranhou os nomes? Sim, para ingressar no mercado dos EUA, era preciso "americanizar" o nome. Daí Deodato Borges Filho, virou Mike Deodato. Luciano Queiroz virou Luke Ross, e Bene Nascimento, tornou-se Joe Bennett. Só para citar alguns. Isso devido ao fato de o artista brasileiro ser desacreditado lá fora. Achavam que eles não cumpririam os prazos, em uma época que não havia internet. Tudo era enviado por SEDEX.
Mas a partir de 1993, as grandes editoras começaram a se interessar pelo traço brasileiro. Marcelo Campos fez " Liga da Justiça" para a DC, Mike Deodato fez "Mulher Maravilha", Luke Ross fez "New Gods".  Com a internet, começa a ficar mais fácil o contato e surge a segunda geração de desenhistas, revelando o talento de Ivan Reis, Sam Hart, Adriana Melo, Edde Wagner, Eddy Barrows.
Em 1998, surge a Escola Impacto, do pioneiro Klebs Junior, que também começa a agenciar os seus melhores alunos e de lá até hoje revelou nomes como Renato Arlem, Wellington Alves, Carlos Paul, Wagner Reis, Carlos Rafael, Geraldo Borges entre tantos outros.
O surgimento da Quanta Academia de Artes, também colaborou revelando nomes como Renato Guedes, que atualmente desenha o Wolverine para a Marvel. Na década de 2000, começa a aparecer o trabalho dos desenhistas Joe Prado, Greg Tocchini, Daniel HDR, Sérgio Cariello, Eduardo Barros, Paulo Siqueira, Adriano Batista. Os arte finalistas: Oclair Albert e Ruy José. Os coloristas Hermes Tadeu (já falecido) e o excelente Rod Reis.
De 2005 para cá surge a chamada terceira geração, com nomes como Amilcar Pinna, José Wilson Magalhães, Wellington Alves, Diógenes Neves, Ig Guara.
Apesar de Marcelo Cassaro já ter publicado sua série de sucesso "Victory" pela Image Comics em 2003, foi na segunda metade da década que o mercado americano começou realmente a apreciar não só o desenho, mas também os roteiros, as idéias do artista brasileiro. Em 2005, Rafael Albuquerque lança "Crimeland" também pela Image. Rafael Grampá lança "Mesmo Delivery" pela Dark Horse. E chegamos aos gêmeos Fábio Moon e Gabriel Bá, com a excelente minissérie em dez edições "Daytripper" pela Vertigo/DC, ganhando os principais prêmios daqui e do exterior.

HOJE EM DIA´
Eddy Barrows mostrando seu trabalho nos EUA

Hoje temos também grandes coloristas trabalhando para os EUA. Além do já citado Rod Reis (Art & Comics), temos Ivan Nunes, Cris Peter, Vinicius Andrade, Débora Carita, Bruno Hang, Frank Martim, a maioria agenciada pelo Estudio Impacto.
Perseverança, disciplina, talento e profissionalismo. São as principais exigências para o aspirante a desenhista de hqs para os EUA. Mas convenhamos, depois que essa turma toda aí de cima, trabalhou e fez bonito, acredito que ficou um pouco mais fácil. Nós brasileiros, hoje dividimos as mesas de autógrafos com as feras do quadrinho mundial. Coisa impensável a vinte anos atrás.
Na última Comic Con, realizada no Javits Center em Nova York, pode-se constatar também a grandeza e a seriedade do mercado americano de quadrinhos. Um centro de convenções inteiro dedicados as hqs e seus derivados. Mais de 600 expositores, uma legião de fãs e os curiosos "cosplayers", pessoas que que se vestem como seu personagem predileto, utilizando roupas, armaduras e tudo mais. Um bom lugar para fazer contatos com editoras, artistas, ou simplesmente reencontrar amigos. Jornalistas de vários países fazendo a cobertura, inclusive do Brasil, pois esbarrei nos corredores com Manoel de Souza, editor da Mundo dos Super-Heróis, que estava lá cobrindo o evento.


Eu e meu amigo Nilton Sperb (que me hospedou por lá) entre cosplayers no NYCC


Na chamada "Artist Alley" pude literalmente "tietar" esses meus queridos companheiros do traço e vibrar com o sucesso deles, como mostram as fotos a seguir.
Eu, ao lado do colorista Rod Reis (Aquaman e tantos outros títulos).


Com Joe Prado (Aquaman)


Com Oclair Albert (Demon Knights)


Com o grande Daniel HDR



Com meu amigo Klebs Junior

Com tudo isso, só nos resta esperar os próximos capítulos dessa emocionante saga dos artistas brasileiros de hqs rumo ao reconhecimento internacional, provando que não somos campeões só no futebol, mas também na ponta do lápis e do pincel.

BIBLIOGRAFIA:
-Manoel de Souza. revista Mundo dos Super-Heróis, seção Entrevista, vários números. Editora Europa.
-Franco de Rosa. matéria Quadrinhistas do Brasil invadem os EUA. Folha da Tarde, 31/01/1991.


domingo, 9 de outubro de 2011

I ENCONTRO ESTÚDIO ELY BARBOSA


Neste último sábado, dia 08 de outubro, um evento em São Paulo reuniu em uma só noite, diferentes gerações de artistas e colaboradores que trabalharam no já lendário ESTÚDIO ELY BARBOSA. A festa que começou ás escuras devido a falta de energia provocada pelo temporal que assolou a cidade no fim de tarde, contou com a presença de vários artistas do traço. O antigo sobrado da Av Indianópolis, 1337, que chamava atenção de quem passava, com sua fachada exibindo os coloridos e alegres personagens de Ely, hoje ostenta uma placa de aluga-se. O estúdio não existe mais. Mas ele reabriu nessa noite de 08 de outubro! E foi tomado pelas mesmas pessoas que fizeram desse lugar um dos mais fantásticos centros de criação de personagens, quadrinhos, livros, produtos, enfim, tudo que saía da mente inventiva e criativa do sr. Ely Rubens Barbosa. O sobrado ainda respira arte, pois, no mesmo endereço, na outra metade do sobrado funciona o Estúdio Plug & Play, de Otávio Barbosa, filho de Ely. E foi ali o palco do reencontro de pessoas como Bira Dantas, que trabalhou no Estúdio no início da década de 1980, desenhando o gibi OS TRAPALHÕES, hoje um clássico dos quadrinhos nacionais, que era produzido ali, sob a batuta de Ely Barbosa. Bira recem-chegado de uma viagem a Coréia, onde foi mostrar a força dos quadrinhos brasileiros, reencontrou seu amigo e mentor Eduardo Vetillo, este último grande desenhista de títulos como CHET, SPECTREMAN, URTIGÃO e claro, dos personagens de Ely.


Bira Dantas presenteia Eduardo Vetillo

Uma noite que contou também com a presença de Carlos Alberto Migliorin, que também fez OS TRAPALHÕES ali, mas que vem de uma carreira extensa, passando inclusive pelos Estúdios de MAURÍCIO DE SOUSA, na década de 1970.
Edson Parisotto, criador do belíssimo site de Ely Barbosa, que está no ar novamente, também compareceu para contar e rememorar histórias de um profissional que iniciou sua carreira lá no comecinho do Estúdio, no fim dos anos 1970, quando ainda era na Avenida Ceci.
Aparecido Norberto (Cidão), que começou ainda garoto no estúdio e hoje é um dos maiores desenhistas brasileiros, fez ali CACÁ E SUA TURMA, TURMA DA FOFURA, OS AMENDOINS e tantos outros passando depois pela DISNEY, EDITORA ABRIL e GLOBO.
José Wilson Magalhães, que começou quase junto comigo ali, e que hoje faz parte do seleto grupo de artistas brasileiros que trabalham para as grandes editoras dos EUA, tendo já realizado trabalhos como SUPERMAN e WOLWERINE.
Jose Wilson Magalhães (arte finalista do WOLWERINE) com sua esposa Carla e o filho Pedro

O encontro contou também com a presença de Tomaz Edson e Denise Ortega, do Estúdio GIBIOSFERA, que faz quadrinhos corporativos de qualidade e que já produziram os extintos títulos de Ziraldo na Editora Globo, e que começaram também ali, ela como roteirista e ele como arte finalista e letrista.
A festa foi comandada por Eliete Barbosa, que na década de 1980 ajudava o pai no estúdio, junto de Dona Thereza Barbosa, esposa de Ely, outra presença ilustre no evento. Thereza era o braço direito de Ely, cuidando da parte administrativa, para deixá-lo livre para suas criações. Eliete, cuidava de merchandising, contratos e eventos. Otávio Barbosa, trabalhava na arte, desenhando, colorindo, fazendo roteiros. Chegou tempos depois a dirigir a peça UM PASSEIO NO COMETA, com a então estreante atriz Ana Paula Arosio.
Da esq. para a direita: Thereza, Otávio, Eliete e eu.

E eu também estive presente para relembrar, contar fatos engraçados, reencontrar amigos e principalmente para agradecer pela oportunidade que me deram, lá no longínquo ano de 1986, onde eu comecei como office boy, e três meses depois já estreava como colorista na revista OS TRAPALHÕES. Era a realização de um sonho de um menino que era fã e leitor das revistas do CACÁ (daqueles que mandavam desenhos pelo correio) e estava então trabalhando naquilo que mais gostava. E depois ainda participei de TURMA DA FOFURA, O GORDO E CIA, PATRÍCIA, COLEÇÃO ALÔ AMIGUINHOS e tantos outros, sempre com a orientação do grande Ely Barbosa, que de outro plano, deve ter se divertido bastante vendo a nossa folia.
Ausências? Foram muitas. É preciso ainda reunir: Otávio Mesquita, Matilde Mastrangi, Mingo de Souza, Ademir Pontes, Arthur Garcia, Roberto Goiriz (que mandou recado, mas está no Paraguai), Carlos Cárcamo (atualmente no Chile), Sérgio Valezin, Danilo dos Santos, Paulo Salles, Sonia Uemura, Edde Wagner, Sergio Morettini, João Costa, Marinho Gomes, Sandro Cleuzo, Cleiton Cafeu, Claudio Callao, Tina Glória, Paulo Borges, Regiane Cledy, Tuta, Caê, Goiabinha, Claudio Corazza, Ernesto Bambini, Jorge Luis de Souza, Sueli Ortega, Flavio Ferb, Maria Tereza Maldonado, Fati Gomes, Eduardo Mascarenhas, Walter Caldeira, Messina Neto, Bene. E tantos outros. São muitos tenha certeza.
E  ainda que em pensamento vamos lembrar também de quem não está mais aqui, mas que também fez história no estúdio: Vera Tolaine, Vanderlei Feliciano, Genival de Souza, João Batista Queiroz, Moisés Reis, Ivan Saidenberg. Estes, também grandes artistas, que foram para outro plano.
O próximo encontro, marcado para o ano que vem, deverá trazer ainda mais pessoas para celebrar a vida e a obra deste grande criador que foi Ely Barbosa, que tantos talentos reuniu e formou. O artista se foi em janeiro de 2007, mas sua obra fica e se depender de todos citados aí em cima, ela será sempre lembrada em cada traço, em cada pincelada, em cada roteiro de nossos valiosos artistas.

Tomaz Edson, Cidão, Wilson e seu filho Pedro


Da esq. para a direita: Cidão, Carlos Alberto Migliorin, Edson Parisotto, Alexandre Silva, Bira Dantas e Eduardo Vetillo.


Denise Ortega e Tomaz Edson, do Estúdio GIBIOSFERA


sábado, 10 de setembro de 2011

PATETA FAZ HISTÓRIA, UM CLÁSSICO DAS HQS DISNEY


O lançamento da série PATETA FAZ HISTÓRIA nas últimas semanas, trouxe de volta ás bancas uma das séries de maior sucesso da história das hqs Disney mundiais.
O volume 1 começa com Leonardo da Vinci, e segue com Cristóvão Colombo, Galileu Galilei, Vasco da Gama, e por aí vai, num total de 37 paródias biográficas. Especialmente o VOLUME 5, em que o Pateta encarna Benjamin Franklin e Gustave Eiffel, é o tema desta matéria, pois elas só haviam sido publicadas por aqui em uma série intitulada PATETA É EM INGLÊS, e é essa história que eu vou contar.


Em novembro de 1989, o ESTÚDIO DISNEY que funcionava dentro da Editora Abril Jovem, criando e exportando mais de duas mil páginas de hqs para vários países, lançou nas bancas a série PATETA É. Composta de quatro edições, em formato grande, trazia histórias em inglês acompanhadas de um encarte com a tradução. Destinada não só ao público infantil, a ideia era que o adulto que também curtia Disney, treinasse o seu inglês se divertindo com seus personagens preferidos.
PATETA É trazia ao público novas histórias da já aclamada série PATETA FAZ HISTÓRIA, criada na década de 1970 no estúdio do animador e quadrinista argentino Jaime Diaz, sob encomenda do Disney Studio dos EUA. Eram sátiras históricas estreladas pelo Pateta e a primeira saiu por aqui na revista Almanaque Disney, em abril de 1978. Era LEONARDO DA VINCI, a mesma que reestreia a série neste ano de 2011.
A redação Disney, comandada pelo ex-roteirista Júlio de Andrade Filho, tinha como Diretor Editorial o grande Waldir Igayara de Souza, um dos primeiros a desenhar hqs Disney no Brasil. Eles escolheram para para o número 1 de PATETA É, a biografia de GUILHERME TELL, e decidiram também que a colorização deveria ser especial, bem ao estilo das graphic novels que tanto faziam sucesso na época. Para isso entregaram as cores das 4 edições para o desenhista Isamu. Porém, devido ao seu estilo bastante detalhista e meticuloso, foi necessária a sua substituição já no número1, bem no meio da produção, para que os prazos, sempre apertados fossem cumpridos. Artistas da casa, terminaram a edição.

Uma das peças da campanha de lançamento. Publicado na revista VEJA.



No número 2, GUSTAVE EIFFEL (republicada agora no volume 5 da nova série), entra para fazer as cores o desenhista Sérgio Furlani. Contratado da Abril desde a década de 1970, Pardal, como sempre foi carinhosamente chamado, já figurava entre os grandes desenhistas da casa no GRANDE ALMANAQUE DISNEY publicado em 1977. Ele assumiu as cores da edição 2, em meio aos seus trabalhos dentro da Redação Disney, como Editor de Arte. Mas os velhos problemas com prazos, obrigaram o artista a pedir ajuda. E é aí, que Pardal me convida para ajudá-lo. Eu tinha acabado de ser contratado como Assistente de Arte e essa seria uma grande oportunidade para mim de realizar um bom trabalho. Pardal fazia um trabalho maravilhoso com pincel e tinta ecoline. Eu procurei imitá-lo no início, para que não houvesse diferença entre uma página e outra. Pintávamos sobre uma folha de canson, com a hq impressa em azul, para que depois, o filme do preto fosse sobreposto ás cores. Sistema antigo. Não havia computador, e muito menos Photoshop!

Compare essa página, reproduzida da coleção PATETA FAZ HISTÓRIA, volume 5 (ano 2011), com a reprodução abaixo (Coleção PATETA É, ano 1990). As tonalidades são as mesmas, mas o tratamento de cores é diferente. 

Página de PATETA É BENJAMIN FRANKLIN, ano 1990. Colorização de Alexandre Silva.


O número 3 (DR. JEKILL), foi colorido por duas artistas novatas, freelancers da casa. O último número da série traz a hq BENJAMIN FRANKLIN (também publicada agora no Volume 5). Euclides Miyaura, grande desenhista Disney, chefe de arte da redação, meu amigo e compadre, me chama para colorizar a edição inteira!!! A referência para colorir era a edição original americana, ou seja, não podíamos criar nada, mas sim, baseado no original com cores chapadas, "trabalhar" essas cores, com nuances, texturas, focos de luz, sombreados, etc. O resultado era uma verdadeira Graphic Novel! Foi assim que o jornal FOLHA DA TARDE, definiu a série, como você pode ver a seguir.


Reprodução de um trecho da matéria escrita pelo jornalista Marcelo Alencar sobre o lançamento de PATETA É. Jornal O ESTADO DE S. PAULO, Caderno 2, 18/11/1989.

E assim, PATETA É, publicou entre 1989 e 1990, quatro das hqs que vcs viram e verão ainda na nova série PATETA FAZ HISTÓRIA, lançada em agosto de 2011, pela Editora Abril. Publicou de uma forma diferente, como edições especiais, Graphic Novels. O VOLUME 5 lançado agora, foi de grande surpresa pra mim, pois em uma só edição publicou as DUAS hqs que eu colorizei a 20 anos atrás. Meu trabalho se perdeu no tempo, porque, devido ao método antigo, nunca mais será publicado. Mas vale aqui o registro, para que os colecionadores e novos leitores saibam como era feito os quadrinhos Disney lá atrás, bem antes do computador. Paulo Maffia merece os parabéns pela nova série, belíssima, bom acabamento, papel e impressão idem, e por resgatar esse grande clássico das hqs Disney, que merece figurar na estante dos grandes amantes das hqs!

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

SIGAM-ME OS BONS, OU SEJA, OS FÃS DE CHAVES E CHAPOLIM!



É o grande curinga do SBT! Desde 1984 quando começou a ser transmitido pela TV de Silvio Santos, o seriado Chaves obtém excelentes índices de audiência. Criado por Roberto Gomez Bolaños, em 1971, no México, foi logo adaptado para os quadrinhos, sendo publicado também em países como Argentina, Colômbia, Costa Rica, Panamá, Porto Rico e Estados Unidos. No Brasil, a revista do Chaves começou a ser publicada em setembro de 1990, pela Editora Globo. Curioso, pois batia a TV Globo em audiência, mas foi publicada pela própria editora do grupo. Investindo fortemente no mercado de gibis infantis, em uma época que pipocavam títulos de hqs baseados em apresentadores e programas de TV, a Globo decidiu não importar as hqs já publicadas lá fora, mas sim, iniciar uma produção própria por aqui. Chamaram Ruy Perotti, um dos maiores desenhistas de hqs do Brasil, criador de personagens como Sugismundo, Satanésio e Variguinho, para produzir o gibi, através de seu estúdio, o Signo Arte. O estúdio Cartoon, dos irmãos Roberto e Rosana Munhoz também foi convidado, respondendo por roteiros e desenhos.
Porém, com a saída de Perotti logo no início do projeto, a Globo confiou a produção a Eduardo Vetillo, um dos maiores quadrinhistas brasileiros, desenhista do faroeste CHET, SPECTREMAN, OS TRAPALHÕES, URTIGÃO e muitos outros. Através de seu estúdio INART, Vetillo montou uma equipe para produzir as revistas, que contava com nomes como Rosana Valin, Sérgio Morettini e Vanderlei Feliciano, só para citar alguns. Além da revista mensal, tinha os almanaques e o álbum de figurinhas. Era um enorme sucesso, com vendas sempre acima de cem mil exemplares! Certa vez, contando com o sucesso do programa homônimo no SBT e a vendagem da revistinha, Vetillo sugeriu a Editora Globo a produção
da revista do Chapolim, personagem também muito querido do público e que merecia uma revista própria. --Você dá conta? -- perguntaram a ele. Com a afirmação, começou então a produção do título do CHAPOLIM, que chegou as bancas em junho de 1991, tornando-se outro grande sucesso da casa.

A partir daí a GLOBO decidiu dividir a produção das histórias com o estúdio TANGO, de Sérgio Morettini, que passou a fazer as hqs do CHAVES, ficando as histórias do CHAPOLIM com Eduardo Vetillo pelo INART. Morettini, grande desenhista argentino radicado no Brasil, montou o estúdio apenas para produzir a revista. Profissional experiente, dos quadrinhos DISNEY, TRAPALHÕES, XUXA, e o AMIGO DA ONÇA, contou muitas vezes com o trabalho de artistas como Marcos Uesono e Rosana Valin na arte final. Vetillo, por sua vez, contava comigo na colorização e Vanderlei Feliciano na arte final. Vale lembrar que as duas revistas traziam hqs dos dois personagens, porém sempre com mais histórias do personagem título.

CAPA DO NÚMERO 12 DE CHAPOLIM. DESENHO DE EDUARDO VETILLO. CORES MINHAS.

Foram publicados 32 números do Chaves e 15 do Chapolim entre os anos de 1990 e 1993.
Houve também a publicação de vários números da série GIBIZINHO, com Chaves e Chapolim. Eram revistinhas de 32 páginas no formato de bolso (9,5x13,5 cm) publicando todos os personagens nacionais da casa, como Sérgio Mallandro, Xuxa, Mônica, Cebolinha, e Turma do Arrepio.

CAPAS DA SÉRIE GIBIZINHO

Como toda a criação das hqs era feita por aqui, pôde-se colocar os personagens em situações e ambientes bem brasileiros, como é o caso da hq abaixo. Nela, o Chapolim contracena com lendas do folclore brasileiro, como o Saci e a Iara e envolve-se na luta pela preservação da mata atlãntica e dos animais em extinçâo.

PÁGINAS DA HQ "SOS MATA ATLÂNTICA" PUBLICADA EM CHAPOLIM 13. DESENHOS DE EDUARDO VETILLO. COLORIZAÇÃO FEITA POR MIM.

Tanto CHAVES quanto CHAPOLIM foram grande sucesso de vendas e só pararam por causa dos tempos bicudos que se vivia, pós impeachment do então Presidente Fernando Collor. Morettini chegou a contar que foi com o trabalho feito para as revistas do CHAVES, que comprou seu próprio apartamento em São Paulo, e fixando residência aqui, pode desenvolver muitos outros trabalhos de sucesso, como o seu próprio personagem, o MICO LEGAL, pela Editora Escala (prêmio HQ MIX de melhor revista infantil de 2001).
Vetillo reafirmou seu potencial como desenhista, sendo inclusive elogiado pelo próprio Roberto Gomes Bolãnos, em uma breve visita ao Brasil.
As revistinhas são disputadas a tapas em sebos e lojas virtuais. Afinal, marcaram época e deixaram saudades. Na década de 2000, surge o desenho animado do CHAVES, produzido pelo filho de Bolãnos e também exibido pelo SBT. Na esteira do sucesso do desenho, veio um novo álbum de figurinhas, publicado pela Editorial Televisa e lançado aqui pela Panini. Os personagens vieram em novo traço, bem diferente daquele dos anos 1990. Criou-se uma expectativa pelo retorno da revista em quadrinhos nesse novo traço, o que ainda não aconteceu.
CAPA DO ÁLBUM DE FIGURINHAS, BASEADO NO DESENHO ANIMADO DO CHAVES. DÉCADA DE 2000.

Ultimamente os personagens criados por Bolãnos, tem sido muito lembrados, pois o SBT está comemorando 30 anos. Foi produzido um programa especial, com os atores do casting do SBT interpretando os personagens da vila do CHAVES, contando também com uma reprodução fiel do cenário original do programa. Afinal, um dos grandes responsáveis pelos 30 anos de sucesso da rede de Silvio Santos, é o nosso querido Chaves e o impagável Chapolim.
Para finalizar, veja abaixo a reprodução de um trecho da hq "QUEM PODERÁ ME AJUDAR", onde o próprio roteirista das hqs do Chapolim, clama por sua ajuda, já que ele perdeu os roteiros que entregaria para a editora. Porém, Chapolim se vinga dele, quando descobre que as enrascadas em que sempre aparecia, era fruto de sua imaginação. Pois é, ele não contava com sua astúcia!
NESSA AVENTURA QUE SE PASSA DENTRO DA EDITORA GLOBO, EDUARDO VETILLO HOMENAGEOU O PESSOAL DA REDAÇÃO. FLÁVIA CECCANTINI, SOLANGE LEMES, GISLEINE DE CARVALHO ENTRE OUTROS VIRARAM PERSONAGENS DA HQ. PUBLICADA EM CHAPOLIM 14 (JULHO DE 1992).

terça-feira, 16 de agosto de 2011

UM ESTÚDIO E UMA EDITORA OUSADA

A Editora Abril que sempre foi a líder absoluta dos quadrinhos no Brasil durante as décadas de 60, 70 e 80, viu seu reinado desmoronar quando em 1987 a RGE (Rio Gráfica e Editora, braço editorial das Organizações Globo) tirou dela seu maior artista: Maurício de Sousa. Suas revistas sempre foram campeãs de vendagem, abaixo apenas dos personagens Disney. Mas para abrigar um ícone do porte de Maurício a RGE precisava mudar. E mudou. Tudo. Virou oficialmente Editora Globo, mudou-se do Rio de Janeiro para São Paulo, e instalou-se ao lado dos estúdios de Maurício, na Rua do Curtume, no bairro da Lapa. Em pouco tempo já era a líder, passando inclusive as publicações de Walt Disney. Mas faltava ainda entrar no milionário ramo dos quadrinhos de super-heróis. A Abril já publicava a algum tempo os heróis da Marvel e da DC, as duas maiores editoras de hqs dos EUA. Em setembro de 1989, a arrancada começou, lançando com grande estardalhaço a minissérie ORQUÍDEA NEGRA, de Neil Gaiman e Dave Mckean, seguida de outros sucessos como V DE VINGANÇA, A GUERRA DE LUZ E TREVAS, O PRISIONEIRO, entre outras. Todas minisséries. Para a Globo publicar tantos títulos, era necessário o apoio de estúdios externos, para fazer a tradução e adaptação. É aí que surge o STUDIO IMAGIA, capitaneado por Nilton Sperb e Karin Nielsen. Com o know-how necessário, como ex-editores de super-heróis na Abril, o IMAGIA foi o responsável pela arrancada da Globo nessa área, e, em uma época que qualquer informação passada para a concorrente poderia prejudicar os negócios, foram então considerados o parceiro ideal, pois não trabalhavam com os títulos de heróis da Abril, todos entregues ao Estúdio Artecômix. Daí não foi nenhuma novidade, quando a Globo entregou ao Imagia o seu primeiro título mensal de super-heróis, DREADSTAR, O GUERREIRO DAS ESTRELAS, lançado em julho de 1990 (veja matéria neste blog). 
Mas a grande novidade ainda estava por vir. Em maio de 1990, a Globo lança com ampla divulgação, a graphic novel EXCALIBUR, e dois meses depois a mensal MARVEL FORCE, com grandes personagens, como MOTOQUEIRO FANTASMA, CAVALEIRO DA LUA, FORÇA DE ATAQUE MORITURI, NOVOS GUERREIROS, GUARDIÕES DA GALÁXIA, além do próprio EXCALIBUR. Isso causou revolta e indignação entre os diretores e editores da Abril, pois seguindo a sua cronologia, EXCALIBUR só seria publicada no ano seguinte, já estava programada. Lançada antes, traria histórias com acontecimentos que ainda não haviam sido mencionadas nos seus títulos. Isso daria uma balançada geral no seu cronograma. Em entrevistas a jornais da época, o editor de Marvel Force, Leandro Luigi Del Manto, disse que quando isso acontecesse, publicaria matérias explicativas, o que realmente foi feito. A tradução e adaptação (decorados e colorização) também foi do IMAGIA.
 A Globo encartou em suas revistas esse folheto, contando as novidades bombásticas que estavam por vir. Marvel Force, Excalibur, Lobo, entre outras.

 Capa do numero 1 de MARVEL FORCE.


O número 3 de MARVEL FORCE, trouxe um dos personagens de maior sucesso lá fora, pela primeira vez no Brasil.

A minissérie do PANTERA NEGRA, foi lançada em dezembro de 1990. Participei fazendo os decorados.
Na sequência, a Globo lançou outros títulos, como O PRISIONEIRO, ELRIC, MUNDO SEM FIM. Séries e minisséries que fizeram sucesso. O STUDIO IMAGIA tornou-se o grande parceiro da Globo nesta guerra travada com a Abril, pela preferência dos leitores, traduzindo e adaptando todos esse títulos. Mas os tempos eram outros, tempos de Collor, e entre 1992 e 1993 tanto uma quanto a outra cancelaram inúmeros títulos, não só juvenis como infantis também. Vários estúdios fecharam e o IMAGIA foi nessa. Estava encerrada as atividades de um dos maiores estúdios de hqs do Brasil. Entre tantos títulos infantis e juvenis, era acima de tudo um centro de criação, de pessoas apaixonadas pelo que faziam. Tinha um grande número de colaboradores, entre eles, Vera Lucia Costa, José Wilson Magalhães, Sylvio Pinheiro (que depois, tornou-se sócio), Fati Gomes, Lucrécia Freitas, Mano, Cynthia Stein, Noriatsu Yoshikawa, Nilton Morise, e eu, que fazia decorado e cor. Nilton e Karin, donos do Imagia, foram viver então nos Estados Unidos, e foi lá que nasceram seus dois filhos, Johann e Stefan. Trabalhando na ONU, onde inclusive já foi voluntário em missão no Haiti, Nilton Sperb que também é formado em cinema, ainda mantém contato com as hqs frequentando comics shops e eventos como o New York Comic Con, cuja próxima edição acontece em outubro. Circulando entre os stands anonimamente como qualquer fã, ninguém é capaz de imaginar que ali está um cara que contribuiu e muito para que os leitores de todo o Brasil, pudessem conhecer e curtir os seus incríveis super-heróis, e fazer desse país um dos maiores consumidores de suas criações.
Em recente visita ao Brasil, Nilton deu uma passada em casa. Da esquerda para a direita, Terezinha e eu, Nilton, Karin e Stefan.

Faltou o fotógrafo da primeira, Johann (ao centro).