quinta-feira, 30 de junho de 2011

O MUNDO MARAVILHOSO DE ELY BARBOSA



Tudo tem um começo. Tudo tem uma explicação. Até nas hqs, os personagens nascem, e vão se desenvolvendo aos poucos. Em muitos títulos, no número 1, são apresentados os personagens, os vilões, as tramas e como os seus heróis nasceram, como conseguiram tais poderes e por aí vai. Mas comecei tocando nesse assunto para falar de uma edição que é muito difícil de se achar, mesmo em sebos. Estou falando do número 1 de CACÁ E SUA TURMA, lançamento de fevereiro de 1977. A Editora Abril resolveu investir nos personagens, devido ao sucesso de suas aparições no Programa Sílvio Santos, transmitido aos domingos pela TV Tupi e Record, através de vinhetas, animações e também pelo sucesso da coleção de livros SÍLVIO SANTOS PARA CRIANÇAS, editada pela Bloch, onde os personagens Lili e Dentinho interpretavam clássicos da literatura infantil, narrados pelo apresentador Sílvio Santos.
Esse primeiro número de CACÁ, é também a primeira revista em quadrinhos de Ely Barbosa, desenhista e publicitário que fez carreira nos comerciais de TV (quem não se lembra da "pulguinha dançando iê, iê, iê" da DDDRIN), e produziu o primeiro desenho animado a cores do cinema brasileiro, As aventuras do Tio Maneco. Ely começou a investir em hqs, depois que Sílvio Santos desistiu de produzir junto a ele um desenho em longa metragem com os personagens de Monteiro Lobato.
Na primeira história de CACÁ E SUA TURMA nº 1, é contada a origem das fantasias que os personagens Lili e Dentinho vestiam nas vinhetas para a tv, e nos comerciais. Fantasias encantadas, que transportavam os personagens para um mundo cheio de magia e encantamento.
Na segunda, "Edgar, o incrível sapo cantor", o mesmo personagem da coleção de livrinhos da Bloch estava de volta, com uma curiosidade: o apresentador Silvio Santos e seu braço direito Luciano Callegari virariam personagens de hq. A história se desenrola durante a gravação do programa Show de Calouros, para onde Cacá, Lili e Dentinho levam o tal sapo Edgar para tentar a carreira artística.

Nessa época Ely trabalhava com Silvio, que era dono dos "Studios Silvio Santos de Cinema e Televisão", que ocupavam o antigo endereço da extinta TV Excelsior, na Vila Guilherme. Também nessa época, Silvio acabava de ganhar a concessão de um canal de tv, inicialmente no Rio de Janeiro, e que depois tornou-se o SBT, Sistema Brasileiro de Televisão, com sede em São paulo. O roteiro é hilário, com grandes sacadas.


Página da hq, EDGAR, O INCRÍVEL SAPO CANTOR, onde se pode ver os "personagens" Silvio Santos e Luciano Calegari, CACÁ, n. 1, fevereiro de 1977.

Na terceira, é contado o nascimento do João Banana, um dos personagens mais populares de Ely, e na quarta hq, a origem do Escovão, o coelhinho amarelo, namorado da Fofura, que tanto encantou as crianças.
Com tudo isso, essa edição torna-se mais do que especial. Ela é o início do "MUNDO MARAVILHOSO DE ELY BARBOSA", que se materializou em dezenas de produtos no mercado.
De calçados, camisetas e brinquedos, a jogos de cama e velas de aniversário.

Essa primeira fase da revista durou 8 números, saiu de circulação e só voltou as bancas em fevereiro de 1980 pela Rio Gráfica e Editora (atual Editora Globo). Nessa segunda fase ganharam mais destaque Os Íncriveis Amendoins e os Tutti Frutti. Devido ao sucesso, os personagens chegaram à televisão em 1983, nos programas TV TUTTI FRUTTI e BOA NOITE, AMIGUINHOS, produzidos pelo Estudio Ely Barbosa e veiculados pela TV Bandeirantes. Na esteira do programa chegou às lojas o LP "A MÚSICA MARAVILHOSA DA TV TUTTI FRUTTI", e no teatro era encenada a peça "UM PASSEIO NO COMETA", lancada algum tempo depois em VHS, pela Globo Vídeo.



Folheto de lançamento de Cacá e sua turma, pela RGE.

Numero 1 de CACÁ E SUA TURMA, pela RGE, fevereiro de 1980.
Teve até comercial de TV, na Globo.



Em 1987, chegam as bancas pela Editora Abril três revistas de Ely Barbosa em substituição as de Maurício de Sousa, que mudaram de editora. Nessa terceira fase, da qual eu participei, não aparecem Os Tutti Fruttis e nem os Amendoins. A Lili, o Dentinho e o cãozinho Cacá também sumiram. As grandes estrelas são Nenê, Fofura e Escovão protagonistas da TURMA DA FOFURA (mensal, 64 págs.). O Gordo que tinha suas aventuras publicadas desde o CACÁ de 1977, ganha revista própria, O GORDO E CIA (quinzenal, 34 págs.). E uma nova turma é lançada na revista PATRÍCIA, (quinzenal, 34 págs.).

Este anúncio, com os personagens convidava novos talentos para trabalhar no Estúdio. E assim vieram: Paulo Borges, Denise Ortega, Tomaz Edson, José Wilson Magalhães, Tina Glória, Sandro Cleuzo, Edde Wagner, Sérgio Morettini e muitos outros. Início de 1987. 


Nos anos 1990, com o fim das revistas, Ely dedicou-se a livros infantis, lançados por várias editoras, como FTD, Maltese, Paulus e nas Paulinas, onde obteve o seu maior sucesso com a série ONDE ESTAMOS, que ainda se encontra nas livrarias.

E quase como para fechar a carreira com chave de ouro, em 2002, o Grupo Sílvio Santos relança com grande sucesso a mesma coleção de livrinhos da década de 70, com narração do apresentador. As artes foram todas refeitas e atualizadas por desenhistas como Mingo de Souza e Ademir Pontes. A fita cassete, foi substituída pelo CD. Mas a essência da obra esta lá. Após esse grande trabalho, Ely foi acometido pelo mal de Parkinson, vindo a falecer em 19 de janeiro de 2007.
Por tudo isso que contei é que o número 1 de CACÁ E SUA TURMA de 1977, é especial.
É o começo dessa maravilhosa história, desse grande artista que tantos outros formou, espalhou alegria e encantamento em quem viveu sua infância entre 1970 e 1990, e deixou muitas saudades.

Quer conhecer mais? Nos sebos, encontra-se muitos exemplares das revistas de Ely.
No facebook, tem o Clube do Ely Barbosa, criado pelo amigo Edson Parisotto, este que também trabalhou no estúdio como eu e produziu o site do Ely, que infelizmente saiu do ar. Acesse:  www.facebook.com/ely.rubens.barbosa onde você vai encontrar várias tiras e hqs dos personagens, o blog http://elybarbosaoficial.blogspot.com/  do amigo Wagner Moloch, e no Youtube, muitos vídeos dos programas postados pelo filho de Ely, Otávio Barbosa.

Dizem que a memória do brasileiro é curta. Mas quando se toca o coração, a gente não esquece nunca mais.





O Jornalzinho do Cacá, era encartado dentro do tablóide Metrô News, distribuído gratuitamente. Foi lançado com uma grande festa na Praça da Sé, em São Paulo, em 15 de março de 1981.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

NOS TEMPOS DE CONAN, O BÁRBARO

                         Capa de CONAN EM CORES n. 5, Dezembro de 1989. Todas as hqs colorizadas no Brasil.

O título A ESPADA SELVAGEM DE CONAN, foi um dos maiores sucessos da extinta EDITORA ABRIL JOVEM, nas décadas de 1980 e 1990.  A criação máxima de Robert E. Howard, chegou ao  Brasil em 1984 em uma revista mensal, formatão, trazendo histórias em preto e branco publicadas originalmente na revista SAVAGE SWORD OF CONAN, lançada nos EUA em 1974. Devido ao sucesso, o personagem se desdobrou em vários títulos, e um deles, foi CONAN EM CORES. A ideia era apresentar hqs especiais de CONAN totalmente coloridas. Devido a falta de material, algumas hqs foram colorizadas por aqui, e foi aí que surgiu a oportunidade de trabalhar com um dos meus personagens preferidos. No número 5, é publicada a premiada SAGA DO CERCO DE MAKALET, escrita por Roy Thomas e desenhada por Barry Windsor-Smith. A primeira hq, FALCÕES DO MAR, tem cores de Sérgio Furlani, que era um dos chefes de arte da época na Abril Jovem. A segunda, A VINGANÇA DO CÃO NEGRO, foi colorizada por Flávio de Barros. A terceira foi feita por mim. Chama-se o MONSTRO DOS MONÓLITOS. Pintada á mão, com ecoline (aquarela líquida) sobre um papel canson, com a história impressa em azul (chamávamos cianográfica), para depois soprepor o filme do preto.Outro colorista bastante atuante nessa série era Noriatsu Yoshikawa.
 Esse número 5, já anunciava na última página que seria publicada na próxima edição, uma das hqs mais esperadas pelos leitores: A RESSURREIÇÃO DE BÊLIT. Nela, um feiticeiro promete a CONAN trazer de volta à vida, sua amada Bêlit, a "Rainha da Costa Negra". Mas para isso a guerreira Sonja tem que morrer. Uma grande história, escrita por Roy Thomas e ilustrada por dois grandes artistas: John Buscema e Ernie Chan. Eu tive um enorme prazer em também fazer as cores para essa edição, que também tinha uma outra história, A FARSA, com cores novamente do grande Sérgio Furlani. 

Primeira página de A RESSUREIÇÃO DE BÊLIT. (maio, 1990)

Esta é uma amostra do canson (com impressão em azul), onde o colorista aplicava as cores com pincel. Reparem no rodapé, o carimbo como referência para a gráfica.
                                                          Mesma página, agora impressa.

CONAN EM CORES, teve 13 números, publicando somente histórias especiais de um dos maiores personagens das hqs, imortalizado no cinema pelo ator Arnold Schwarzenegger  e publicado em vários outros títulos como CONAN REI, CONAN, O BÁRBARO e que infelizmente saiu de nossas bancas a pouco tempo. Esperamos que volte em breve, mas enquanto isso, os sebos fazem a alegria dos fãs, mantendo em estoque muitas edições do nosso valoroso cimério.

sábado, 4 de junho de 2011

ESTUDIO SERGIO TASTALDI, O PRIMEIRO CONTATO COM A ANIMAÇÃO

Sérgio Tastaldi e eu, nos reencontramos 25 anos depois, na noite fria de 02/06, na FNAC Pinheiros. Aluno e professor, amizade para sempre.

Lá, no início da década de 1980, uma escola aqui em São Paulo era inaugurada com a missão de ensinar a técnica da animação para crianças e adultos. Era o ESTÚDIO SÉRGIO TASTALDI, que funcionava na Al. Gabriel Monteiro da Silva, no Jardim América. Em 1982, eu li alguma coisa a respeito do estúdio e lá fui eu, me matricular. Quem me recebeu foi o próprio Sérgio Tastaldi, cartunista, músico, ator e animador. Eu já conhecia o seu trabalho através da tv: era dele os desenhos que ilustravam as matérias do saudoso GLOBINHO, apresentado por Paula Saldanha, na década de 70. Tastaldi não só me recebeu muito bem, como vendo a minha dificuldade em ingressar no curso, devido ao seu custo, alto para um jovem que ganhava pouco como office-boy, fez um grande desconto nas mensalidades, para que eu pudesse pagar. E lá ia eu, todos os sábados. Do Brás, onde eu morava, pegava o ônibus elétrico Pinheiros-Belém, e cheio de alegria e esperança, ia frequentar as aulas naquele maravilhoso estúdio. Você criava o seu desenho animado, fazia as artes, pintava os acetatos,e ao final, filmava e via seu desenho pronto, exibido para os outros alunos.
Durante o tempo em que frequentei as aulas, Tastaldi me propôs um emprego, para que eu pudesse ficar mais tempo lá, desenhando, mas na época não pude ir. o Estúdio realizou vários eventos destinados ao desenho animado, como o I ENCONTRO BRASILEIRO DO CINEMA DE ANIMAÇÃO, realizado no MIS-Museu da Imagem e do Som, com palestras de grandes feras, como Walbercy Camargo, Marcos Magalhães (hoje diretor do ANIMA MUNDI|), Ely Barbosa, Daniel Messias e Mauricio de Sousa. Lá, durante o evento, o público era convidado a desenhar uma sequência de um desenho animado que ia sendo feito durante o evento por todos. No último dia, o desenho foi exibido para todo o público. Na sequência, veio a FEIRA DO DESENHO ANIMADO, no Sesc Pompéia em 1983, onde havia várias oficinas, palestras, e exibições, talvez o embrião do ANIMA MUNDI que vemos hoje. Teve também a FESTA DO BICHO DE GOIABA, personagem criado por Tastaldi para o programa homônimo da TV Radiobrás. Realizado também no Sesc Pompeia, tinha exibições de vídeo e exposição fotográfica de como se fazia um desenho animado.




Antes, bem antes do ANIMA MUNDI existir, tinha a FEIRA DO DESENHO ANIMADO no Sesc Pompeia. Matéria publicada no JORNAL DA TARDE, 1983.


Perdi contato com Tastaldi, quando saí do curso em 1984. Algum tempo depois ele estreou na TV GAZETA o programa LIG-O-PUG, com bonecos animados, ao estilo do personagem Capivara que já participava do programa REALCE com Beto Rivera, na mesma emissora. Depois passei a ler notícias a seu respeito em jornais e revistas devido ao sucesso de suas produções teatrais com A TURMA DO PAPUM de bonecos manipulados. Trabalhos que percorrem o Brasil e o exterior. Hoje reencontro meu velho amigo e professor, com um sucesso estrondoso no teatro de bonecos, na publicidade e tv. Residindo em Florianópolis, me procurou durante a sua estada em São Paulo na semana passada. Foi um presente pra mim,
 no ano em que completo 25 anos de carreira. O seu estúdio foi o meu primeiro contato com esse mundo maravilhoso da animação, dos quadrinhos, das artes em geral. E foi o meu grande estímulo para continuar investindo em meu sonho de trabalhar com tudo isso. Obrigado, Véio Tasta!