quarta-feira, 31 de agosto de 2011

SIGAM-ME OS BONS, OU SEJA, OS FÃS DE CHAVES E CHAPOLIM!



É o grande curinga do SBT! Desde 1984 quando começou a ser transmitido pela TV de Silvio Santos, o seriado Chaves obtém excelentes índices de audiência. Criado por Roberto Gomez Bolaños, em 1971, no México, foi logo adaptado para os quadrinhos, sendo publicado também em países como Argentina, Colômbia, Costa Rica, Panamá, Porto Rico e Estados Unidos. No Brasil, a revista do Chaves começou a ser publicada em setembro de 1990, pela Editora Globo. Curioso, pois batia a TV Globo em audiência, mas foi publicada pela própria editora do grupo. Investindo fortemente no mercado de gibis infantis, em uma época que pipocavam títulos de hqs baseados em apresentadores e programas de TV, a Globo decidiu não importar as hqs já publicadas lá fora, mas sim, iniciar uma produção própria por aqui. Chamaram Ruy Perotti, um dos maiores desenhistas de hqs do Brasil, criador de personagens como Sugismundo, Satanésio e Variguinho, para produzir o gibi, através de seu estúdio, o Signo Arte. O estúdio Cartoon, dos irmãos Roberto e Rosana Munhoz também foi convidado, respondendo por roteiros e desenhos.
Porém, com a saída de Perotti logo no início do projeto, a Globo confiou a produção a Eduardo Vetillo, um dos maiores quadrinhistas brasileiros, desenhista do faroeste CHET, SPECTREMAN, OS TRAPALHÕES, URTIGÃO e muitos outros. Através de seu estúdio INART, Vetillo montou uma equipe para produzir as revistas, que contava com nomes como Rosana Valin, Sérgio Morettini e Vanderlei Feliciano, só para citar alguns. Além da revista mensal, tinha os almanaques e o álbum de figurinhas. Era um enorme sucesso, com vendas sempre acima de cem mil exemplares! Certa vez, contando com o sucesso do programa homônimo no SBT e a vendagem da revistinha, Vetillo sugeriu a Editora Globo a produção
da revista do Chapolim, personagem também muito querido do público e que merecia uma revista própria. --Você dá conta? -- perguntaram a ele. Com a afirmação, começou então a produção do título do CHAPOLIM, que chegou as bancas em junho de 1991, tornando-se outro grande sucesso da casa.

A partir daí a GLOBO decidiu dividir a produção das histórias com o estúdio TANGO, de Sérgio Morettini, que passou a fazer as hqs do CHAVES, ficando as histórias do CHAPOLIM com Eduardo Vetillo pelo INART. Morettini, grande desenhista argentino radicado no Brasil, montou o estúdio apenas para produzir a revista. Profissional experiente, dos quadrinhos DISNEY, TRAPALHÕES, XUXA, e o AMIGO DA ONÇA, contou muitas vezes com o trabalho de artistas como Marcos Uesono e Rosana Valin na arte final. Vetillo, por sua vez, contava comigo na colorização e Vanderlei Feliciano na arte final. Vale lembrar que as duas revistas traziam hqs dos dois personagens, porém sempre com mais histórias do personagem título.

CAPA DO NÚMERO 12 DE CHAPOLIM. DESENHO DE EDUARDO VETILLO. CORES MINHAS.

Foram publicados 32 números do Chaves e 15 do Chapolim entre os anos de 1990 e 1993.
Houve também a publicação de vários números da série GIBIZINHO, com Chaves e Chapolim. Eram revistinhas de 32 páginas no formato de bolso (9,5x13,5 cm) publicando todos os personagens nacionais da casa, como Sérgio Mallandro, Xuxa, Mônica, Cebolinha, e Turma do Arrepio.

CAPAS DA SÉRIE GIBIZINHO

Como toda a criação das hqs era feita por aqui, pôde-se colocar os personagens em situações e ambientes bem brasileiros, como é o caso da hq abaixo. Nela, o Chapolim contracena com lendas do folclore brasileiro, como o Saci e a Iara e envolve-se na luta pela preservação da mata atlãntica e dos animais em extinçâo.

PÁGINAS DA HQ "SOS MATA ATLÂNTICA" PUBLICADA EM CHAPOLIM 13. DESENHOS DE EDUARDO VETILLO. COLORIZAÇÃO FEITA POR MIM.

Tanto CHAVES quanto CHAPOLIM foram grande sucesso de vendas e só pararam por causa dos tempos bicudos que se vivia, pós impeachment do então Presidente Fernando Collor. Morettini chegou a contar que foi com o trabalho feito para as revistas do CHAVES, que comprou seu próprio apartamento em São Paulo, e fixando residência aqui, pode desenvolver muitos outros trabalhos de sucesso, como o seu próprio personagem, o MICO LEGAL, pela Editora Escala (prêmio HQ MIX de melhor revista infantil de 2001).
Vetillo reafirmou seu potencial como desenhista, sendo inclusive elogiado pelo próprio Roberto Gomes Bolãnos, em uma breve visita ao Brasil.
As revistinhas são disputadas a tapas em sebos e lojas virtuais. Afinal, marcaram época e deixaram saudades. Na década de 2000, surge o desenho animado do CHAVES, produzido pelo filho de Bolãnos e também exibido pelo SBT. Na esteira do sucesso do desenho, veio um novo álbum de figurinhas, publicado pela Editorial Televisa e lançado aqui pela Panini. Os personagens vieram em novo traço, bem diferente daquele dos anos 1990. Criou-se uma expectativa pelo retorno da revista em quadrinhos nesse novo traço, o que ainda não aconteceu.
CAPA DO ÁLBUM DE FIGURINHAS, BASEADO NO DESENHO ANIMADO DO CHAVES. DÉCADA DE 2000.

Ultimamente os personagens criados por Bolãnos, tem sido muito lembrados, pois o SBT está comemorando 30 anos. Foi produzido um programa especial, com os atores do casting do SBT interpretando os personagens da vila do CHAVES, contando também com uma reprodução fiel do cenário original do programa. Afinal, um dos grandes responsáveis pelos 30 anos de sucesso da rede de Silvio Santos, é o nosso querido Chaves e o impagável Chapolim.
Para finalizar, veja abaixo a reprodução de um trecho da hq "QUEM PODERÁ ME AJUDAR", onde o próprio roteirista das hqs do Chapolim, clama por sua ajuda, já que ele perdeu os roteiros que entregaria para a editora. Porém, Chapolim se vinga dele, quando descobre que as enrascadas em que sempre aparecia, era fruto de sua imaginação. Pois é, ele não contava com sua astúcia!
NESSA AVENTURA QUE SE PASSA DENTRO DA EDITORA GLOBO, EDUARDO VETILLO HOMENAGEOU O PESSOAL DA REDAÇÃO. FLÁVIA CECCANTINI, SOLANGE LEMES, GISLEINE DE CARVALHO ENTRE OUTROS VIRARAM PERSONAGENS DA HQ. PUBLICADA EM CHAPOLIM 14 (JULHO DE 1992).

terça-feira, 16 de agosto de 2011

UM ESTÚDIO E UMA EDITORA OUSADA

A Editora Abril que sempre foi a líder absoluta dos quadrinhos no Brasil durante as décadas de 60, 70 e 80, viu seu reinado desmoronar quando em 1987 a RGE (Rio Gráfica e Editora, braço editorial das Organizações Globo) tirou dela seu maior artista: Maurício de Sousa. Suas revistas sempre foram campeãs de vendagem, abaixo apenas dos personagens Disney. Mas para abrigar um ícone do porte de Maurício a RGE precisava mudar. E mudou. Tudo. Virou oficialmente Editora Globo, mudou-se do Rio de Janeiro para São Paulo, e instalou-se ao lado dos estúdios de Maurício, na Rua do Curtume, no bairro da Lapa. Em pouco tempo já era a líder, passando inclusive as publicações de Walt Disney. Mas faltava ainda entrar no milionário ramo dos quadrinhos de super-heróis. A Abril já publicava a algum tempo os heróis da Marvel e da DC, as duas maiores editoras de hqs dos EUA. Em setembro de 1989, a arrancada começou, lançando com grande estardalhaço a minissérie ORQUÍDEA NEGRA, de Neil Gaiman e Dave Mckean, seguida de outros sucessos como V DE VINGANÇA, A GUERRA DE LUZ E TREVAS, O PRISIONEIRO, entre outras. Todas minisséries. Para a Globo publicar tantos títulos, era necessário o apoio de estúdios externos, para fazer a tradução e adaptação. É aí que surge o STUDIO IMAGIA, capitaneado por Nilton Sperb e Karin Nielsen. Com o know-how necessário, como ex-editores de super-heróis na Abril, o IMAGIA foi o responsável pela arrancada da Globo nessa área, e, em uma época que qualquer informação passada para a concorrente poderia prejudicar os negócios, foram então considerados o parceiro ideal, pois não trabalhavam com os títulos de heróis da Abril, todos entregues ao Estúdio Artecômix. Daí não foi nenhuma novidade, quando a Globo entregou ao Imagia o seu primeiro título mensal de super-heróis, DREADSTAR, O GUERREIRO DAS ESTRELAS, lançado em julho de 1990 (veja matéria neste blog). 
Mas a grande novidade ainda estava por vir. Em maio de 1990, a Globo lança com ampla divulgação, a graphic novel EXCALIBUR, e dois meses depois a mensal MARVEL FORCE, com grandes personagens, como MOTOQUEIRO FANTASMA, CAVALEIRO DA LUA, FORÇA DE ATAQUE MORITURI, NOVOS GUERREIROS, GUARDIÕES DA GALÁXIA, além do próprio EXCALIBUR. Isso causou revolta e indignação entre os diretores e editores da Abril, pois seguindo a sua cronologia, EXCALIBUR só seria publicada no ano seguinte, já estava programada. Lançada antes, traria histórias com acontecimentos que ainda não haviam sido mencionadas nos seus títulos. Isso daria uma balançada geral no seu cronograma. Em entrevistas a jornais da época, o editor de Marvel Force, Leandro Luigi Del Manto, disse que quando isso acontecesse, publicaria matérias explicativas, o que realmente foi feito. A tradução e adaptação (decorados e colorização) também foi do IMAGIA.
 A Globo encartou em suas revistas esse folheto, contando as novidades bombásticas que estavam por vir. Marvel Force, Excalibur, Lobo, entre outras.

 Capa do numero 1 de MARVEL FORCE.


O número 3 de MARVEL FORCE, trouxe um dos personagens de maior sucesso lá fora, pela primeira vez no Brasil.

A minissérie do PANTERA NEGRA, foi lançada em dezembro de 1990. Participei fazendo os decorados.
Na sequência, a Globo lançou outros títulos, como O PRISIONEIRO, ELRIC, MUNDO SEM FIM. Séries e minisséries que fizeram sucesso. O STUDIO IMAGIA tornou-se o grande parceiro da Globo nesta guerra travada com a Abril, pela preferência dos leitores, traduzindo e adaptando todos esse títulos. Mas os tempos eram outros, tempos de Collor, e entre 1992 e 1993 tanto uma quanto a outra cancelaram inúmeros títulos, não só juvenis como infantis também. Vários estúdios fecharam e o IMAGIA foi nessa. Estava encerrada as atividades de um dos maiores estúdios de hqs do Brasil. Entre tantos títulos infantis e juvenis, era acima de tudo um centro de criação, de pessoas apaixonadas pelo que faziam. Tinha um grande número de colaboradores, entre eles, Vera Lucia Costa, José Wilson Magalhães, Sylvio Pinheiro (que depois, tornou-se sócio), Fati Gomes, Lucrécia Freitas, Mano, Cynthia Stein, Noriatsu Yoshikawa, Nilton Morise, e eu, que fazia decorado e cor. Nilton e Karin, donos do Imagia, foram viver então nos Estados Unidos, e foi lá que nasceram seus dois filhos, Johann e Stefan. Trabalhando na ONU, onde inclusive já foi voluntário em missão no Haiti, Nilton Sperb que também é formado em cinema, ainda mantém contato com as hqs frequentando comics shops e eventos como o New York Comic Con, cuja próxima edição acontece em outubro. Circulando entre os stands anonimamente como qualquer fã, ninguém é capaz de imaginar que ali está um cara que contribuiu e muito para que os leitores de todo o Brasil, pudessem conhecer e curtir os seus incríveis super-heróis, e fazer desse país um dos maiores consumidores de suas criações.
Em recente visita ao Brasil, Nilton deu uma passada em casa. Da esquerda para a direita, Terezinha e eu, Nilton, Karin e Stefan.

Faltou o fotógrafo da primeira, Johann (ao centro).

domingo, 7 de agosto de 2011

NOS CÉUS, E NOS GIBIS!

Em 14 de maio de 1952, aconteceu a primeira demonstração de um grupo da Força Aérea Brasileira, denominado ESQUADRILHA DA FUMAÇA. Formado por profissionais extremamente dedicados e destemidos, o grupo foi criado a partir do hobby de jovens capitães e tenentes, que se divertiam praticando manobras acrobáticas arriscadas exigidas na aviação de caça. O grupo tornou-se um eficiente relações públicas da Aeronática. A fama os levou a apresentações diversas por várias partes do país e até do exterior. E os levou também aos quadrinhos. Em maio de 1994, chegava ás bancas o primeiro número da ESQUADRILHA DA FUMAÇA, publicado pela Price Editora. A ideia surgiu quando o editor Marcial Godoy assistiu uma apresentação da Esquadrilha. Conversou com os integrantes e bolaram o projeto. A revista seria produzida por uma equipe montada pela editora, mas todos os roteiros seriam lidos e revisados pelos próprios pilotos e pelo Centro de Comunicação Social do Ministério da Aeronáutica. A tiragem era de 45 mil exemplares e a venda em bancas teria uma porcentagem destinada as despesas de manutenção da Esquadrilha. Duas páginas eram escritas pela própria Esquadrilha, esclarecendo que o "grau de loucura" que eles demonstravam nas acrobacias, era fruto de muito profissionalismo e treino.

Metalinguagem na estreia: o menino volta correndo pra casa, porque comprou o primeiro número da   revistinha da Esquadrilha. E aí começa a aventura!

A EQUIPE
Marcial Godoy, dono da Price Editora, até então publicando apenas catálogos farmacêuticos, chamou para a equipe de sua primeira revista em quadrinhos, uma dupla das mais prolíficas da década de 1990, Arthur Garcia e João Pacheco, este último falecido em 1995.
A dupla, responsável por revistas como FORÇA ÔMEGA (Ed. Escala) e CYBER (Vidente), criou os roteiros, as figuras e a ambientação para as hqs do grupo. Todos os integrantes da época viraram personagens pelas mãos desses dois grandes artistas. Foram criados também uma mascote e o que não pode faltar em nenhuma história: o vilão Devorak. Na verdade, ele era um ex-aviador de carga, que fora proibido de pilotar, depois de tentar roubar a carga que transportava, para vendê-la ao exterior. Mas o avião sofre um acidente, ele se salva mas é pego e punido. Desde então, torna-se inimigo número 1 da Força Aérea e da Esquadrilha. Eu fui chamado para colorir as histórias, já que trabalhava bastante com o Arthur. Na arte final, José Wilson Magalhães, hoje finalizando as artes do Renato Guedes para o Wolwerine da Marvel, e mais, Wanderlei Feliciano, Toninho Lima, Ademir Pontes e Rosinaldo.



O LANÇAMENTO
A revista foi lançada num domingo, 22 de maio, no Aeroporto Campo de Marte, em Saõ Paulo. Cerca de duas mil pessoas estavam lá para assistir gratuitamente a apresentação aérea do grupo, que começou as 11h e durou cerca de 30 minutos. No final, foi distribuído o número zero da revista, na verdade um folheto de 4 páginas, com um trecho da hq, chamando o público para acompanhar no dia seguinte nas bancas a continuação da história.
Esta é a capa do folheto (número zero) da ESQUADRILHA DA FUMAÇA, distribuído no lançamento da revista
no Campo de Marte.

Além do lançamento em São Paulo, houve outro em Pirassununga, sede da Esquadrilha, várias matérias em jornais e tv, mas uma especialmente chamou a atenção. Foi uma matéria do VÍDEO SHOW, da TV GLOBO, onde os desenhistas Arthur Garcia e João Pacheco, além de serem entrevistados, foram convidados a "voar" em um dos aviões da Esquadrilha na companhia de um dos integrantes, realizando acrobacias no ar! Uma experíência realmente inesquecível!
Inesquecível também é a revista, que teve quatro edições e hoje é raríssima. Mas a Esquadrilha continua aí, encantando multidões por onde se apresenta e fazendo a gente se sentir orgulhoso da Força Aérea Brasileira. Para conhecer mais sobre eles, acesse http://www.esquadrilhadafumaca.com.br/ e aproveite para pedir a volta do gibi. Com certeza, eles ainda tem muita história pra contar!